Reflexões

Será que não estamos desperdiçando tempo demais?

Frente ao "peso na história", somos todos irrelevantes. As vezes é difícil lembrar que em pouco mais de 100 anos, nenhum de nós estará por aqui. Por isso, acredito que talvez estejamos dando atenção em demasia para coisas com importância relativa menor. A vida passa e nós também!
Elemar Júnior
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09/11/2022

Nos últimos dias tenho visitado lugares cheios de história. Monumentos, castelos, museus, igrejas, praças e ruas repletas de obras de arte – protegidas e a céu aberto. Quase tudo o que tenho visto já era relevante muito antes de eu chegar e continuará sendo depois que eu partir dessa vida. Isso me faz pensar que, independentemente de quem você é, dificilmente será relevante frente ao peso da história.

Outro dia, em Paris, visitei o local onde está sepultado Napoleão Bonaparte – um dos maiores nomes da história francesa. Trata-se de uma edificação belíssima onde, além de estarem os restos mortais do grande imperador, há algumas “lojinhas de badulaques”, onde é possível comprar um bocado de coisinhas descartáveis, incluindo um patinho de borracha que meu filho Otávio nomeou como “o Pato Napoleão”. Honestamente, considero uma falta de respeito com a memória de quem está ali e da França. Entretanto, reconheço que trata-se de um fenômeno inevitável. Até mesmo os grandes nomes da história, como Napoleão que foi um dos homens mais poderosos de seu tempo, com o tempo convertem-se, para a maioria das pessoas, em “apenas” atrações turísticas, com significado cada vez menor para cada vez menos gente.

Em Reims, entre tantos lugares incríveis, está o local que serviu como base de comando para os aliados na Segunda Guerra Mundial. Mais do que isso, também foi o local onde o alto comando alemão assinou o acordo de rendição que decretou o final de um dos momentos mais tristes da história recente da humanidade. Hoje, a “sala importante” está em um museu simples, junto a uma escola pública, em uma parte decadente da cidade. Aliás, é bem difícil perceber que a cidade foi tomada e foi palco de combates terríveis.

Ainda em Reims, visitando as adegas da Veuve Clicquot – uma icônica marca de champagne – com adegas que se estendem por mais de 25 quilômetros de túneis intrincados no subterrâneo da cidade, descobri que estas serviram de refúgio para os moradores da cidade, também na segunda guerra. As pessoas se esconderam ali por mais de seis meses. Hoje, esse é apenas um “fato mencionado” na visita guiada. A ênfase está nas bebidas.

Já em Nancy, conheci a linda praça Stanislas, construída em homenagem ao Rei da Polônia enquanto a região era parte daquele País. Lugar “suntuoso”, onde o dourado se destaca nos diversos monumentos. Curiosamente, Stanislas, hoje, parece ser apenas um nome complicado para um lugar bonito.

O fato, amigos, é que frente ao peso do tempo, estamos todos condenados à irrelevância, assim como nossos problemas ou conquistas. Em pouco mais de cem anos, no melhor dos casos, nenhum de nós, os quase oito bilhões de habitantes desse mundo, estará mais aqui. Em 2150, outros oito bilhões estarão em nossos lugares, morando nas nossas casas e andando nas nossas ruas. Depois deles, outros oito bilhões. Eventualmente, alguns de nós terão algo produzido exposto em alguma parede, com alguma nota rápida indicando a autoria (como em centenas de quadros belíssimos expostos no museu de arte de Nancy).

Outro dia comentei que a grande atração do Louvre é a Monalisa. Também destaquei que a maioria das pessoas que busca a obra não sabe o porquê de estar fazendo isso.

Vaidade de vaidades. Tudo é vaidade! Por isso, como já disse o sábio, cabe-nos todos aproveitar os dias de nossas vidas, comendo, bebendo, aproveitando os frutos de nosso trabalho digno, junto das pessoas que amamos. Todo o restante é apenas correr atrás do vento.

Não percamos tempo com ressentimentos, tampouco com desentendimentos. Não vamos gastar o escasso que temos com aquilo que não tem valor ou que, pior, subtrai valor. Obvio que as eleições e o resultado delas é importante. Empresas que gostamos mais ou menos são compradas e vendidas para e por gente gostamos mais ou menos.  Certamente, todos temos contas para pagar. Todos também temos, longe ou perto, gente doente precisando de ajuda. Mas, acredito que estamos dando importância relativa demasiada para coisas que não têm tanta relevância.

Se nossa passagem é curta, incapaz de resistir ao “peso da história”, que sejamos plenos no tempo que temos. Façamos o melhor para nós, por nós e por quem amamos.

(Em tempo, estou compartilhando algumas dessas experiências no meu Instagram)

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zimer
zimer
10 meses atrás

belíssimo texto. estou acompanhando sua viagem pelo insta
parabéns

Rodrigo Ghiorzi
Rodrigo Ghiorzi
10 meses atrás

“Frente ao peso do tempo, estamos todos condenados à irrelevância”.

A melhor frase que eu poderia ter lido hoje! Adoro esse tipo de reflexão, grato por mais um texto seu

Marcus Costa Braga
Marcus Costa Braga
10 meses atrás

Ótima reflexão. Estar perto de quem amo, pra mim é a melhor coisa da vida.

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